Deixe o outro sentir sua ausência
- Dr Jorge Jose dos Santos
- 5 de mai.
- 2 min de leitura
Por Dr Jorge Jose dos Santos – Psicólogo e Psicanalista... Atendimento Online: WhatsApp (11) 998102-5097
Há momentos em que insistir é, na verdade, desaparecer. A presença excessiva sufoca o desejo. É na ausência que a memória se agita e o inconsciente sussurra o que falta.
Do ponto de vista neurocientífico, a saudade ativa circuitos similares à dor física. O afastamento acende áreas cerebrais ligadas à motivação e ao apego. Isso nos mostra: é preciso haver espaço para que o outro perceba o quanto sente nossa presença — mesmo na ausência.
A psicanálise nos ensina que o amor nasce da falta, do não preenchido. Desejamos o que nos falta — não o que está sempre disponível. Tornamo-nos significativos não pela insistência, mas pela marca simbólica que deixamos no imaginário do outro.
Não adianta apelar para estratégias externas: mudar o visual, exagerar nos gestos, tentar chamar atenção com poses ou frases ensaiadas. O desejo não nasce do que é visível, mas daquilo que toca algo profundo, às vezes inominável.
Na filosofia, especialmente em Platão, aprendemos que o amor é o movimento em direção ao que nos completa — ou ao que acreditamos que nos completa. Porém, a verdade é que só nos tornamos necessários ao outro quando, de alguma forma, acalmamos as suas inquietações mais íntimas.
Não somos escolhidos pelo que mostramos, mas pelo que despertamos — e isso nem sempre é consciente. Às vezes, nos tornamos um símbolo, uma imagem interna, uma memória que vibra em algum lugar entre o afeto e a fantasia.
Por isso, é inútil tentar convencer alguém a nos amar. O amor verdadeiro é sempre uma convergência de faltas: quando a minha ausência dói em você e a sua falta grita em mim.
Quando não há reciprocidade nesse abismo compartilhado, é sinal de que o laço não se formou. E nesses casos, o mais sábio é aceitar: nem sempre seremos a falta que o outro procura preencher.
Mas não há tragédia nisso. Outros virão. E talvez, em um novo encontro, sejamos exatamente o que alguém, em silêncio, tanto esperava encontrar.
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